sexta-feira, outubro 14, 2005

O desemprego

Gordon Brown escreveu sobre a questão um texto que vale a pena ler: Global Europe: full-employment Europe.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Simon Wiesenthal ( 1908 - 2005 )






O Mundo deve muito a este homem. Que nunca se ignore aquilo que ele combateu.
A Simon Wiesenthal, consciência da shoah. Obrigado.

terça-feira, agosto 23, 2005

Diferenças...

Diferenças/semelhanças entre dois Aeroportos...

Áreas:
Aeroporto de Málaga: 320 hectares,
Aeroporto de Lisboa: 520 hectares.

Pistas:
Aeroporto de Málaga: 1 pista,
Aeroporto de Lisboa: 2 pistas.

Tráfego (2004):
Aeroporto de Málaga: 12 milhões de passageiros, taxa de crescimento 7% a 8% ao ano.
Aeroporto de Lisboa: 10,7 milhões de passageiros, taxa de crescimento 4,5% ao ano.

Soluções para o aumento de capacidade:
Málaga: 1 novo terminal. Investimento de 191 milhões de euros. Capacidade de 20 milhões de passageiros/ano. O aeroporto continuará a 8 Km da cidade e a ter uma só pista.
Lisboa: 1 novo aeroporto. Investimento de 3000 a 5000 milhões de euros. Solução faraónica a 40 Km da cidade.

segunda-feira, julho 25, 2005

Será verdade...

que a esquerda portuguesa é original, refrescante, inovadora, surpreendente, diversificada, lúcida e está sempre virada para o futuro ?

que, caso ganhe as eleições, Soares vai acumular a reforma de Presidente da república com o ordenado de Presidente da República ?

que Soares tenha declarado em Dezembro de 2004: "Basta, não assumirei mais cargos políticos." ?

que Sócrates vai alterar radicalmente a idade da reforma ?

que Veiga Simão substituirá em breve a ministra da Educação ?

que Scolari não confirma nem desmente a chamada de Eusébio à selecção ?

que Sampaio se candidatará à Presidência da República em 2030 ?

que a Ota vai para a frente "por causa dos terrenos" ?

que Diana Andringa tenta provar não ter havido assaltos nos comboios da Linha de Sintra ?

Trapalhadas

Foram tantas neste último mês...

quinta-feira, junho 30, 2005

Os Quinhentos

Escrito por Eduardo Pitta em daliteratura.blogspot.com


No momento em que a SIC Notícias deu o «directo», a perplexidade foi geral. Um arrastão na praia de Carcavelos? Envolvendo 500 indivíduos? O que é um arrastão...? Explicada a natureza do arrastão, a televisão, o mais que conseguiu, foi entrevistar banhistas que «não tinham» visto nada, e um empregado de bar, ou coisa parecida, que relatou vagamente o sucedido, referindo «centenas de pessoas». Percebeu-se logo que dizia «pessoas» para não dizer negros. Entalada entre o Forte de São Julião da Barra e a Ponta da Rana, a praia de Carcavelos tem um areal generoso: quilómetro e meio de ponta a ponta, cem metros de largo em dois terços da extensão. É a maior praia da linha do Estoril, só ultrapassada na região de Lisboa pela Costa da Caparica. Cabe lá muita gente: 30 mil banhistas foi o número apontado para essa tarde. Era o feriado do 10 de Junho, o dia estava tórrido. Não sei se o número é exacto. Sei que bastava metade desse número para impossibilitar, repito, impossibilitar, uma «maratona» de 500 indivíduos. Quinhentos indivíduos é o equivalente a quatro companhias do exército, ou, se preferirem, o equivalente a um batalhão (4x125). Ninguém, nos media, parou um minuto para pensar na evidência: o gang era um batalhão... Com o areal coberto, como é que um batalhão atravessa a praia? Passa por cima. À bruta. E ninguém reage? Afinal de contas, o arrastão não é uma dança de salão. O método não era de excluir. Mas como de tudo resultaram três feridos (um polícia, uma mulher que cortou o pé esquerdo num caco de vidro, e uma rapariga que levou uma cacetada por engano), um queixoso (um emigrante do Leste que ficou sem o fio de ouro), e três ou quatro detenções sem consequência, temos de concluir que foi um curioso arrastão. Tão curioso que os 500 indivíduos desapareceram todos num ralo. Já tínhamos a inventona, agora temos também a arrastona. Até aqui tudo releva do «disparate»: inépcia jornalística, contra-informação, etc. No dia seguinte, a BBC e a CNN mostraram imagens da polícia no areal, arma em riste, e grupos de rapazes negros. Mais histerismo. Anteontem os 500 já eram 70, e hoje parece que são «perto de 40». O busílis não é o arrastão. O busílis é que o arrastão chegou ao Parlamento num tom que não prenuncia nada de bom: «500 delinquentes negros», adjectivos fortes, etc. Aquilo que parecia uma «manobra» falhada (muito mal explicada pela polícia), uma «manobra» que os media «venderam» sem se dar ao trabalho de tentar juntar as pontas soltas, ganha contornos extremamente inquietantes. O pior é que pode ser um ponto de não-retorno.

quarta-feira, junho 22, 2005

Haverá país como este?


(Clicar na imagem)

ESTA imagem continua actual, cinco anos depois.

Foi-me enviada com a seguinte explicação:

«Fui recentemente aos Correios na Baixa de Lisboa e fui atendida por uma dessas novas funcionárias dos Palops. (...) perguntou o nome para colocar no recibo.

Sem dar importância, disse-lhe que deixasse em branco. Agora poderão ver (...) o que a funcionária escreveu no local do meu nome.

Maria Orlanda da Fonseca Rodrigues»



A sociedade actual...

"Dois amigos passeiam numa floresta. De súbito, ao longe, um tigre avista-os e avança na sua direcção.

Rapidamente, um deles abre a mochila, tira um par de ténis, e começa a calçá-los.

«Pensas correr mais depressa do que o tigre por causa desses ténis?!» - pergunta o outro, a tremer.

«Não, só quero é correr mais depressa do que tu»

segunda-feira, junho 13, 2005

Arrastão

Para ler com atenção o post de Pacheco Pereira e o comentário de Miguel Morujo.

"DAS DUAS, UMA

Ou a polícia está completamente cega quanto ao que se passa em certos bairros de Lisboa e não tem um informador sequer que a previna de algo que mobilizou quinhentas pessoas, ou seja que milhares souberam com antecedência; ou toda esta história está mal contada e não são quinhentos, nem foi combinado, e alguma coisa aconteceu na praia que não aparece nos jornais. Há uma terceira hipótese que me parece tão absurda que a recuso: a polícia sabia e não fez nada.

O ministro tem muitas explicações a dar e depressa."

José Pacheco Pereira

*

"Sobre o seu post «Das duas uma» e lendo o DN, parece de facto que a história não foi bem contada, pelo menos nas televisões:

«O pânico gerou-se ontem ao início da tarde na praia de Carcavelos, quando centenas de indivíduos, em bandos, começaram de repente a assaltar e a agredir os banhistas. [...] Os distúrbios terão tido início quando uma bando roubou um fio de ouro a um imigrante de Leste, espancando-o, contou ao DN Bruno Marques, um dos banhistas presentes no local. Esta situação foi testemunhada pela responsável de um café da zona, que logo fechou o estabelecimento e chamou a polícia. O tempo de chegada das forças de segurança, ainda que curto, foi suficiente para que, como que por simpatia, outros bandos que ali tomavam banhos de sol aproveitassem a oportunidade para tentar a sua sorte. Gerou-se, então, o caos. Várias crianças perderam-se dos pais, com os bandos a assaltarem quem estivesse mais a jeito, agredindo os que ofereciam resistência.
Nada fazia prever que aquela onda de violência surgisse tão de repente. De acordo com fonte policial, os bandos eram banhistas que, aliás, são frequentadores habituais daquela praia. "Reagiram por simpatia ao verificarem a oportunidade", contou. Não houve, portanto, nenhum assalto organizado à praia, nem qualquer estratégia concertada entre gangs. "A pólvora estava lá e bastou que alguém acendesse o rastilho", explicou o interlocutor do DN.»

De facto, é "interessante" que nenhuma televisão, nas reportagens que vi, tenha colocado ênfase à aparente espontaneidade do "arrastão". E mais: que não houve assalto organizado..."

Miguel Marujo

Reprise!!!

Eu já sabia que isto ia acontecer

Que Tragédia!!!!

O tacho, qual tacho? GALP? Glup

terça-feira, junho 07, 2005

"O Cobrador de Impostos"

«Deixa-me dizer-te como é que vai ser:

É um para ti, dezanove para mim,

Porque eu sou o cobrador-de-impostos.

Se 5% te parece pouco,

Agradece eu não te levar tudo.

Se guias um carro, eu taxo-te a rua;

Se tentares sentar-te, eu taxo-te o assento;

Se tiveres frio, eu taxo-te o aquecimento;

Se fores dar uma volta, eu taxo-te os pés,

Porque eu sou o cobrador-de-impostos.

Não me perguntes para que é que eu os quero,

Se não queres ainda pagar mais;

Agora, o meu conselho aos que morrem:

Declarem o valor dos vossos olhos,

Porque eu sou o cobrador-de-impostos

E é só para mim que vocês trabalham,

O cobrador-de-impostos."

The Beatles, 1966

segunda-feira, junho 06, 2005

Referendo Francês

Para ler com atenção a opinião de Jacques Attali no L'Express de 06 / 06 / 2005.

"Notre pays ne pourra rester deux ans de plus dans une double précarité - économique et politique - sans dommages irréversibles


Voici qu'à la précarité sociale, qui a provoqué le refus de la Constitution européenne, le président répond par la précarité politique, qui pourrait un jour entraîner le refus de la République.


Le marché, fondé sur la liberté de choix des acteurs économiques, entraîne la réversibilité de leurs décisions et provoque la précarité des emplois, des implantations industrielles et des placements financiers. En poussant, par le jeu de la concurrence, à l'innovation, le marché transforme même cette précarité en une tyrannie du neuf, qui s'installe peu à peu dans tous les domaines de la vie économique, sociale, culturelle et privée. Et, au total, la précarité n'est donc plus un effet secondaire de la mondialisation, mais bien l'autre nom de la liberté. En étant incapables de mettre en place des moyens d'en protéger les peuples, les gouvernants poussent les électeurs à accepter d'échanger des libertés contre de la sécurité. Ainsi, ce n'est pas un hasard si les moins diplômés, c'est-à-dire les moins bien préparés à supporter le changement, ont voté non au référendum. Ni si les rares régions où le neuf est encore synonyme de progrès ont voté oui.


La démocratie, fondée sur la liberté de choix des électeurs, installe la précarité des gouvernants et ajoute à l'incertitude des gouvernés. Aujourd'hui plus encore, en France, à un moment où, plus que jamais, le pays a besoin qu'on lui montre la route vers une liberté protégée, voici que la politique se réduit à une lutte à mort entre les deux meilleurs talents de la droite et entre les meilleurs espoirs de la gauche.


Ce n'est donc pas non plus un hasard si les citoyens les plus menacés de précarité économique votent pour ceux, extrémistes de gauche comme de droite, qui laissent entendre que la précarité pourrait disparaître avec la fermeture des frontières et la réduction des libertés.


Notre pays ne pourra rester deux ans de plus dans cette double précarité sans dommages irréversibles, c'est-à-dire sans ouvrir un boulevard à une alliance brun-rouge, même si celle-ci se déguise en bleu ou en rose.


Afin d'éviter cela, il serait urgent que la classe politique se mette au travail pour proposer au pays des programmes permettant de maintenir le goût du risque tout en protégeant contre ses effets les plus pervers. Cela passe par des réformes très audacieuses, touchant à la pratique démocratique, à l'émergence de nouveaux champs d'économie hors marché, par la mise en place de mécanismes efficaces et justes de protection contre les risques du chômage et par l'incitation à la reconversion et à la création d'entreprises individuelles. Cela suppose, par exemple, qu'un chômeur se voie reconnaître un statut de travailleur s'il accepte de recevoir durablement une formation qualifiante, aussi exigeante et rémunératrice qu'un emploi.


Il y faudrait pour cela du courage et du temps. Deux des denrées les plus rares, par les temps qui courent."

quinta-feira, maio 26, 2005

Agradecimentos de um Benfiquista

Gostaria de AGRADECER:

- A todos que enviaram imagens de sofás e cadeirões, dizendo: "Queres ser campeão? Então espera sentado". Foi um bom conselho. Isso de esperar 18 ou 19 anos dá experiência nestes assuntos;

- A todos os que enviaram avisos sobre possíveis doenças transmissíveis pelo "mofo" acumulado desde 1993. Não se preocupem, pois Portugal já passou epidemias bem piores, nomeadamente os 18 e 19 anos acima referidos. Mas como o agradecimento é sincero, fica uma sugestão: RENNIE ou KOMPENSAN para a azia;

- A todos os que enviaram o aviso que tinham problemas na versão Word 1.0 de 93/94 e não conseguiam escrever "Benfica Campeão". A grande maioria dos portugueses reportaram o facto à Microsoft, a qual desenvolveu a aplicação "1 a 0" versão 04/05, pelo que já podem escrever as tão desejadas palavras, porque não irá ocorrer de novo qualquer problema;

- A todos que enviaram o vídeo do Gato Fedorento, "O adepto do Benfica". É um grande momento de humor. Embora continuemos a querer ganhar por "quinje a jero", conclui-se mais uma vez, que não é necessário ganhar com algumas goleadas para ser campeão (a outra foi na longínqua época do treinador John Mortimore);

- A todos os que enviaram menus de restaurantes com "Salada Russa", após a eliminação do Benfica pelo CSKA (tivemos azar...apanhamos os russos no início da UEFA, houve quem tivesse mais sorte e só apanhou no fim). Esqueceram-se que a referida salada se serve fria.

Gostaria, ainda, de AGRADECER:

- Ao Ricardo, por ser benfiquista e nos fazer rir muito, com as suas actuações. É sem dúvida, dos melhores em Portugal;

- Ao facto do Mourinho ter saído do FCP. Foram menos 20 pontos, em relação à época passada. De facto, um grande treinador, que transforma o mediano em óptimo;

- Ao Pitbull, ao Leandro, ao Areias, ao Leo Lima, ao Fabiano Fabuloso, ao Pepe, ao Claudio, ao Del Neri e ao Luis Fernandez;

- Ao Trapattoni, que nos fez ganhar o campeonato, mesmo piorando 9 pontos, em relação ao ano passado. Isto apesar de termos sido eliminados da UEFA pelo vencedor desta prova, para quem não sabe, o CSKA ("a melhor equipa que defrontámos esta época");

- Ao Peseiro, pela frase acima referida;

- Aos russos que, a 18 de Maio, gritaram "Viva o Benfica";

- Ao Luisão que, em Janeiro, após derrota com o Beira-Mar afirmou: "Em Maio vamos ver quem festeja!". Ele tinha razão. Foi o marcador de um dos golos mais decisivos dos últimos tempos;

- Ao fantasma da Luz, que após ter feito um penalty sobre o Jardel, na época 2001/2002, redimiu-se e fez a falta sobre o guarda-redes do Sporting, no dia 14 de Maio, na Luz;

- Ao Manolo Vidal (que considerou legal o golo do Benfica) e ao Soares Franco, que afirmou: "Não temos nada a reclamar em relação ao golo." [declaração logo após o jogo da Luz]. Finalmente, alguém que conseguiu tirar o filtro verde do televisor;

- Ao Pampilhosa, por não estar na Taça de Portugal, na altura em que se disputava a 33ª Jornada, o que impediu novamente a "limpeza" de cartões amarelos (alguém poupou 15000 euros);

- À Bandeira de Portugal, que nos vai emprestar as Quinas para os equipamentos;

Só para não haver confusões: quando falo no Ricardo, estou a referir-me ao Ricardo Araújo Pereira.

terça-feira, maio 24, 2005

Madeleine Peyroux

é a voz do momento. Tão boa como como Diane Krall e Norah Jones. Careless Love é o seu último disco. A recomendar, claro!!

domingo, maio 22, 2005

"E PLURIBUS UNUM"

Este título também é teu, Miki!!


Benfica Campeão




sábado, maio 14, 2005

A força da televisão...

...é tal que nos impõe tiques e manias. “Eles falam, falam mas não dizem nada” é apenas um exemplo mil vezes repetido à nossa volta, tanto como há uns tempos atrás o “Tô Xim”. Goste-se ou não, a criançada assumiu o famoso “Dahh!!”. “Isto” é o que diz um garoto cheio de gel na cabeça, sentado na sala de aula. “Dahh!!” significa “só” que o interlocutor não percebeu nada do que ele acabou de dizer. A tradução de tal expressão é algo como: “És mesmo estúpido!”. Um pormenor: a tal criança com gel na cabeça e sentado na sala de aula dirige o seu “Dahh!!” à professora dos Batanetes, a série da TVI, e ao professor do programa Zero em Comportamento, na SIC.
Tal expressão é mal-educada mas, desde as Lições do Tonecas, os professores são personagens constantemente colocadas ao ridículo. Mesmo as instituições privadas como o Colégio da Barra em Morangos com Açúcar, na TVI, os adolescentes discutem alto os seus problemas pessoais e ignoram a matéria que os docentes tentam transmitir. Cada vez mais se ouve o “Dahh!!”, cada vez existem mais insultos e agressões físicas. Preocupante? Os miúdos copiam tudo e naturalmente repetem o que se vê e ouve na televisão. Recentemente, estreou uma novela na TVI onde há um rapaz que usa gel na cabeça ( simples coincidência? ) e inferniza a vida da mãe porque esta não lhe dá o telemóvel, as sapatilhas ( deve dizer-se tennis ) e tudo o que os colegas têm e ele não. Por isso, ele é mal-educado, fala com maus modos e sai porta fora quando as coisas correm mal. Percebem agora a razão pela qual ninguém cumpre prazos, se chega atrasado aos compromissos assumidos e não se desliga o telemóvel num evento público, mandando às urtigas os direitos dos outros?

Adopções e Justiça

Notícia do Expresso de 9 de Abril: “O Tribunal de Vila Franca de Xira decidiu esta semana, novamente, retirar uma criança à família ‘adoptiva’ com quem vivia há cinco anos, para a entregar à mãe biológica.(...)Desta vez, o juiz nem sequer considerou a declaração da mãe biológica (...) de que não podia manter os filhos, preferindo que ficassem com as famílias ‘adoptivas’”. Qualquer repetição da leitura deste texto não retira a perturbação que ele arrasta.
Poderá considerar-se natural o facto de se retirar uma criança à família que ela considera a sua sem que o juiz ouça essas famílias e os respectivos advogados? E se a própria mãe confessou não ter condições para ficar com a criança, o que se pretende ao entregar-lha? Revelará bom senso a decisão de deixar a criança à guarda duma instituição? E o que se quererá dizer quando se determina que a dita instituição deve criar condições para que a criança possa ficar com a mãe? Alguma coisa ou alguém poderão criar um agregado familiar por decisão do tribunal? Fazer e desfazer famílias parece ser uma simples brincadeira.
Esta decisão retrata bem o estado dos processos de adopção em Portugal. Mais do que isso, revela o poder desmesurado dos meretíssimos juizes em contraponto com a simples obediência a que estão sujeitos famílias, crianças, instituições e os seus advogados. Um juiz pode determinar que uma criança não vai ver mais as pessoas a quem chama “pai” e “mãe”. Inclusivamente, pode até proibir a criança de se despedir deles. Pode até, com a sua decisão, obrigar uma criança a não ir à escola, como aconteceu com este caso.
Mas pasmem com este conceito de “justiça”. Ainda no mês de Abril, um condutor, que circulava em excesso de velocidade e atropelou mortalmente uma criança, foi condenado a uma multa de 5.000 euros e à suspensão da carta por quatro meses. Ao mesmo tempo, um cidadão que não conseguiu pagar uma multa de 135 euros, devido a graves problemas de saúde que o afectam, foi condenado a 30 dias de prisão. Os juizes viverão isolados e rodeados pelos seus códigos ou habitarão o nosso mundo?
Valerá a pena procurar novos consensos em matérias judiciais? Deveremos continuar a discutir os direitos dos cidadãos? Como é possível condenar à cadeia uma pessoa por não ter conseguido pagar por inteiro os 135 euros de uma multa, apesar de ter proposto o pagamento em prestações?
Passando para a área criminal a situação não é melhor. Quantos julgamentos não são anulados por erros “processuais”? Alegadamente, o comportamento do juiz-conselheiro Joaquim Almeida Lopes no caso Fátima Felgueiras, tal como o do outro senhor juiz que comemorou efusivamente de cachecol ao pescoço o último resultado eleitoral do Partido Socialista, é ou são, no mínimo, inquietante(s). No primeiro caso e segundo gravações obtidas pela PJ e transcritas pela imprensa, o juiz-conselheiro pedia a Fátima Felgueiras que o avisasse rapidamente caso o então secretário de Estado da Administração Local, José Augusto Carvalho, ordenasse uma auditoria à autarquia. O diálogo é particularmente sugestivo, ora leiam: “Porque eu vou procurar dar um golpe de rins a ver se ainda consigo evitar. Como fiz da outra vez há dez anos, percebes?” Perceber, não percebemos mas registamos e registamos também o facto de o vice-procurador-geral da República ter mandado arquivar o inquérito sobre o juiz-conselheiro Joaquim Almeida Lopes. A explicação para tal facto seria anedótica se não fosse trágica e tortuosa: como o crime de favorecimento pessoas (cuja pena máxima é de três anos) não prevê a utilização de escutas telefónicas como meio de prova, estas não podem ser utilizadas. Ora tomem!

quinta-feira, maio 12, 2005

Festa de Bloggers

Dia 21 de Maio, depois da meia noite, no Teatro Taborda, na encosta do Castelo de São Jorge. O convite é do blog O Código de Santiago.

quarta-feira, maio 11, 2005

segunda-feira, maio 09, 2005

Princípios Básicos Para Se Perceber Portugal

segundo José Pacheco Pereira.


É muito pequeno.

É bastante pobre.

É muito periférico.

Somos todos primos uns dos outros, logo a democracia é difícil.

Os bens são escassos, a competição pelos bens é muita.

Dada a escassez dos bens, a inveja está muito socializada.

A ignorância é muita.

A abundância da ignorância acentua nas novas gerações a tendência adâmica de pensarem que o mundo começa com eles.

Efeitos do adamismo : o número de pessoas que pensam estar a arrombar portas, que já estão abertas há muito, é elevado. O alarido que fazem ao passarem pelas portas abertas é inversamente proporcional à resistência das portas.

A preguiça é muita e é induzida pelos critérios de mediania dominantes.

Entre as letras e as artes de consumo trabalhoso e as de consumo preguiçoso, tenderão a acentuar-se as segundas.

A música e o cinema, a televisão e a moda, são de consumo preguiçoso.

Há muita coisa que não vale a pena tentar explicar. Primeiro, porque já está mais que explicada há muito, depois porque não é por falta de explicação que as coisas mudam.

Cinema



A Sony Pictures começa hoje a fazer a divulgação de 'O Código Da Vinci', adaptação para os cinemas do livro de Dan Brown, e que será realizado por Ron Howard, com as filmagens a começarem em Junho. A data de estreia está marcada para o dia 19 de Maio de 2006.

Ian McKellen (será Sir Teabing), Alfred Molina (no papel do Bispo Arigarosa) e Jean Reno (Bezu Fache) estão certos no elenco. O argumentista deste novo filme será Akiva Goldsman.


sexta-feira, maio 06, 2005

Na era da Unformática



sem palavras...

quinta-feira, maio 05, 2005

Parabéns



pelos dois anos do ABRUPTO, o blog de José Pacheco Pereira onde todos procuramos inspiração

terça-feira, maio 03, 2005

Alguém se recorda

dos mais belos olhos?
afghangirl.jpg

Velocidades

pode o Presidente da República condená-las quando se desloca para todo o lado a mais de 200 km/hora?

As Nossas Ruas

San Giorgio del Sannio é o nome de uma pequena cidade italiana perto de Nápoles. Num esforço realmente imaginativo para ultrapassar a grave situação financeira, o seu Presidente da Câmara acaba de colocar à venda o nome de algumas dezenas de ruas. Os preços variam entre dez mil euros na periferia e os quinze mil euros no centro da cidade. O objectivo é a renovação do cinema municipal e a construção de um lar de idosos, numa cidade com dez mil habitantes. Não se pense que se pode escolher qualquer designação. Contra a vontade daqueles que já pensavam em Avenida Cesare Maldini ou Praça Ferrari, o município só aceita o nome de antigos habitantes, entretanto falecidos. Desta forma, Giancarlo Cappozzi pôde atribuir uma rua à memória de seu pai, que foi médico em San Giorgio del Sannio.
Leio a notícia junto à estátua de António Augusto da Silva Martins que dá o nome à mais importante artéria do Rossio e lembro-me de Cesário Verda, agora que passam cento e cinquenta anos do seu nascimento. Fernando Pessoa, via Alberto Caeiro, dizia sobre Cesário: “Ele era um camponês que andava preso em liberdade pela cidade. Andava na cidade como quem anda no campo.” E lembro-me de Saramago que, desde 2001, dá o nome a uma biblioteca e a uma rua em Rivas, perto de Madrid. O nosso Nobel evocou, na altura, determinada rua da Azinhaga, freguesia ribatejana onde nasceu e onde jogou à bola em menino. E contou que mais tarde se mudou para Lisboa onde veio “morar na rua E”. Sem mais nem menos. Simplesmente E. Quando habitamos determinado espaço, não deveríamos merecer mais do que uma simples letra? Que nome daria Saramago à sua velha rua da bola de trapos, do pião, da apanhada, se a autarquia seguisse o exemplo de San Giorgio del Sannio?
Encontro com alguma regularidade toponímia curiosa. Em Évora existe a rua do Imaginário, em Viseu a do Amor de Perdição, em Vilamoura a das Estrelas, em Sesimbra a dos Naufrágios, em Leça a dos Dois Amigos em homenagem à amizade entre António Nobre e Alberto de Oliveira, no Porto a das Musas, chamada antes Viela dos Abraços. Ainda do ponto de vista literário, Eça tem a rua das Flores que dá nome à tragédia e Mário de Carvalho o Beco das Sardinheiras. Cesário, por exemplo, nasceu na rua da Padaria mas desconhece-se o local exacto, faltando também a placa alusiva ao acontecimento.
Os nossos dias stressantes e vazios afastam para longe, para muito longe, os simples passeios para lá das florestas de betão. Avistar os “ramalhetes rubros das papoulas” fica assim mais difícil.

sexta-feira, abril 29, 2005

Mordomias

Antes das eleições, passou despercebida uma entrevista que Almeida Santos, um dos “senadores” da Pátria, antigo deputado, antigo ministro e antigo Presidente da Assembleia da República, deu à Antena 1.
Ele é muito provavelmente a pessoa que em Portugal piores títulos escolheu para os seus livros (“Picar de novo o porco que dorme” é bem exemplificativo) mas na entrevista explicou as razões que tornam uma carreira política no Parlamento aliciante. (Vamos lá então) Primeiro, ser deputado é uma ambição compreensível por se tratar de uma ocupação notória, de exígua responsabilidade e custo. Financeiramente, o Parlamento não deslumbra, mas é uma ocupação segura e confortável. (Não começamos nada mal, não senhor, mas aguardem o que está para vir) Depois, Almeida Santos acrescenta outras razões mais “terrenas” que contribuem para que nasça num português da província o desejo de estar na Assembleia. Ele próprio o diz, “para quem vive fora de Lisboa, vir três ou quatro vezes por semana à capital permite uma liberdade, nomeadamente conjugal, que é bastante sedutora”. (Repitam a leitura da citação, por favor)
Devemos esquecer tudo o que pensávamos que sabíamos sobre o Parlamento, a Democracia, a Representação popular, os interesses regionais. Afinal, os deputados de fora de Lisboa são eleitos com uma única função: libertarem-se dos cônjuges.
Tenho pena que a comunicação social portuguesa, tão pronta a encontrar escândalos em alguns governos e a branquear outros, não investigue este assunto, uma vez que o próprio Almeida Santos não denunciou os seus colegas. Eu gostava de saber nomes. Eu e os cônjuges.

Sinal dos Tempos

Quinta-feira, 10 de Março de 2005, Teatro São Luiz em Lisboa. Um telemóvel toca no início do recital do pianista português Artur Pizarro e é atendido em voz alta. O músico, pacientemente, pára a execução da peça e retoma-a de imediato. Poucos minutos depois, toca outro telefone mas o músico não pára. Depois do intervalo, soa longamente outro telemóvel. O seu proprietário não atende nem o desliga. O músico pára de tocar e diz ao infeliz: “Atenda, que eu paro. Mas saia”. Pega nas partituras, levanta-se e vai-se embora. Burburinho na sala. Alguém vem anunciar que o pianista não regressará. O dono do telemóvel dirige-se á bilheteira para exigir o dinheiro de volta, porque o recital foi interrompido.
Infelizmente, é esta a sociedade em que vivemos. Perdeu-se a noção do que é assistir a um espectáculo partilhado colectivamente. O problema não está apenas na falta de educação e consideração de alguns grosseiros que, antes dos telemóveis, faziam barulho e falavam alto nos concertos. Há um mal-estar muito maior. A cultura dominante é a do barulho, da palavra vazia, da comunicação redundante. Até as campanhas publicitárias giram em torno do falar para dizer nada até ficar sem voz. Durante tempos, foi o barulhinho do papel do rebuçado. Depois, a tosse foi ganhando adeptos. Hoje, o telemóvel domina a acção, quer seja nas mãos de um adolescente, de um novo-rico cultural, da cinquentona impertinente, do fulano das novas tecnologias. Habituem-se!

terça-feira, abril 19, 2005

Mar Adentro



dá realmente que pensar. Então deve "ajudar-se a morrer"? Ou será apenas "uma libertação"?
Ramon Sampedro demorou vinte e oito anos e quatro meses a "libertar-se".
Fabulosa a interpretação de Javier Bardem.

quinta-feira, abril 14, 2005

Sabedorias...

A maxima de Richard Woolcott, fundador da Volcom é: RELENTLESS REPETITION. Repetir, repetir, repetir.

Arranja a mesa: Decide exactamente aquilo que queres. A clareza é essencial. Antes de começar a trabalhar, escreve as tuas metas e objectivos num papel.
Planifica cada dia com antecipação: Pensa no papel. Cada minuto gasto a planificar pode poupar-te cinco a dez minutos durante a fase de execução.
Aplica a regra 80/20 a todas as situações: Vinte por cento das tuas actividades serão responsaveis por 80 por cento dos resultados. Concentra sempre os teus esforços naqueles vinte por cento de tarefas ou actividade.
Considera as consequências: As tarefas e prioridades mais importantes são aquelas que têm consequências mais sérias, positivas ou negativas, na tua vida e no teu trabalho. Concentra-te nelas acima de tudo.
Pratica continuamente o método ABCDE: Antes de começar a trabalhar numa lista de tarefas, reserva uns momentos para as organizar por ordem de valor e prioridade, de modo a que tenhas a certeza de que estaràs a trabalhar nas tuas actividades mais relevantes.
Concentra-te nas areas chave que produzem resultados: Identifica e define aqueles resultados que são absoluta e definitivamente necessarios para que consigas fazer bem todas as tuas tarefas e trabalha nelas ao longo do dia.
Obedece à Lei da Eficiência Obrigatoria: Nunca ha tempo para fazer tudo, mas ha sempre tempo para fazer as coisas importantes. Quais são essas coisas?
Prepara-te cuidadosamente antes de começar: A Preparação Previa Previne Performances Pobres.
Faz os trabalhos de casa: Quanto mais entendido e competente te tornares em relação às tuas tarefas-chave, mais depressa as iras começar e mais cedo as concluiras.
Rendibiliza os teus talentos especiais: Determina com exactidão que coisas és muito bom a fazer, ou poderas vir a ser, e entrega-te de alma e coração a executar muito, muito bem essas tarefas especificas.
Identifica os principais constrangimentos: Determina os pontos de estrangulamento, internos ou externos, que definem a velocidade com que consegues alcançar os teus objectivos mais importantes, e concentra-te em alivià-los.
Um barril de petroleo de cada vez: “Uma caminhada de mil milhas começa com um pequeno passo.” Se deres um passo de cada vez, conseguiras realizar os trabalhos mais dificeis e complicados.
Exerce pressão sobre ti proprio: Imagina que tens de sair da cidade durante um mês e trabalha como se tivesses de concluir todas as tarefas maiores antes de partir.
Maximiza os teus recursos pessoais: Identifica os periodos diarios de maior energia mental e fisica e programa as tarefas mais importantes e exigentes para serem executadas nessas alturas. Descansa bastante para que possas trabalhar no teu maximo.
Motiva-te para a acção: Sê o teu proprio factor de incentivo. Procura o lado mais positivo da cada situação. Concentra-te mais na solução que no problema. E sempre optimista e construtivo. Quando alguém te perguntar: “-Como estàs?” Responde sempre “ – Estou optimo!” Oitenta por cento das pessoas não querem realmente saber e vinte por cento ficam contentes se estiveres mal.
Pratica o adiamento criativo: Uma vez que não se pode fazer tudo, tens de aprender a por de lado propositadamente aquelas tarefas de baixo valor a fim de dispor de tempo suficiente para as poucas coisas que verdadeiramente contam.
Faz primeiro a tarefa mais dificil: Começa cada dia com a tarefa mais dificil, aquela que pode contribuir mais para ti e para o teu trabalho, e sê determinado em não a largar até que seja concluida.
Divide a tarefa: Divide as tarefas grandes e complexas em pequenas parcelas e depois começa por fazer apenas uma reduzida parte da tarefa.
Cria grandes blocos de tempo: Organiza os dias em função de grandes blocos de tempo, nos quais te possas concentrar nas tarefas mais importantes durante extensos periodos.
Desenvolve um sentido de urgência: Adquire o habito de atacar logo as tuas tarefas-chave. Torna-te conhecido como uma pessoa que faz as coisas bem e depressa.
Executa uma unica tarefa de cada vez: Estabelece prioridades claras, começa de imediato pela tarefa mais importante e depois trabalha sem paragens até que esteja 100 por cento terminada. Esta constitui a verdadeira chave para elevados desempenhos e para a maxima produtividade pessoal.



Toma a resolução de praticar estes principios todos os dias até que se tornem a tua segunda natureza. Interiorizando estes habitos de gestao pessoal como caracteristicas permanentes da tua personalidade, o futuro não tera limites.

terça-feira, abril 12, 2005

Vinicius de Moraes

Eu deixarei que morra
em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

sexta-feira, abril 08, 2005

Hora da Poesia

Árvore Aberta

Dobrei teus pulsos a dura aranha
do teu corpo
a tua árvore
faca que rasgou a barreira do ventre
a tua face abrindo-se como um barco
amei-te tempestade de ossos e de nervos
contra ti
contra ti

exílio
pátria sobre o chão
e fuga

furiosa e suave lâmina animada
bebida a jactos
aranha alta e linda
enclavinhada
destilando o suor a baba o vinho a seiva
o estrépito da primavera
de uma árvore que se abre
no silêncio

António Ramos Rosa

terça-feira, abril 05, 2005

Um Herói

A história tem já alguns dias, a mensagem é bem actual. A verdade é que nem conhecemos o seu nome mas talvez isso não seja o mais importante. No Sudão, o piloto de um avião de carga condenado a cair tomou aquela que foi a sua última decisão: afastou-o da zona residencial que podia transformar-se em alvo e levou-o para o deserto onde, finalmente, se despenhou. No desastre, morreram sete pessoas, incluindo ele próprio.
Sucedeu há quase um mês no Sudão, a vinte cinco quilómetros do centro de Cartum, a capital sudanesa, e a verdade é que o morticínio só não aconteceu devido ao gesto do piloto. Quem nos contou esta história? Ah, isso sabemos. Abou Bakr Jaafar e Seif Mazrouq Saad Umar são directores da aviação civil do Sudão e da Air West, a companhia aérea a que pertencia o avião cargueiro. Ou seja, as agências noticiosas referiram os seus nomes como fontes mas não foram capazes de indicar o nome do piloto transformado em herói. Ironia do destino? Talvez, ou então tal impossibilidade teve a ver com a rapidez da sua morte mas não tinha sido também rápida a decisão de poupar vidas, mesmo sabendo que não salvava a sua?
Num mundo de desnorte e de individualismo, que lição tirar desta atitude anónima? Muito simplesmente, podemos fazer sempre algo para salvar vidas, reduzir acidentes, minimizar danos. Tratar-se-á de um caso único? Longe disso, houve outros heróis em todos os continentes e em várias circunstâncias, mas o facto desta história se ter passado num país noticiado pelos piores motivos – nomeadamente, constantes violações dos direitos humanos -, torna tudo ainda mais insólito.
No país existem 1,8 milhões de deslocados, vítimas do conflito armado que ali decorre há décadas. Dezenas de milhares de mortos que, mesmo assim, estão longe do milhão de pessoas ameaçadas pela fome. Todos estes números não tocaram fundo na comunidade internacional. Esta continua impassivelmente envergonhada e à última hora evitou mesmo a “simples” inscrição de genocídio no último relatório assinado pelos inspectores das Nações Unidas. Nestes momentos há sempre alguém que fica feliz e aliviado: os governos locais. Desta vez, foi o governo sudanês. “Temos uma cópia desse relatório e não se fala na existência de genocídio”, declarou o ministro sudanês dos Negócios Estrangeiros aos jornalistas no final de Janeiro. Pode existir violência, fome, um elevado número de violações, imensas pilhagens, um grande número de deslocados, mas o importante é não levantar muitas ondas e, para descanso de todos, o maior país do continente africano tem apenas – segundo os relatórios oficiais – um “potencial de genocídio”.
Voltemos ao nosso herói, muitas linhas depois da última referência. Que resposta deu o nosso anónimo ao mundo individualista e de desnorte? Com que acção respondeu aos relatórios oficiais e às consciências pesadas? Que pedra atirou às vontades guerreiras das forças guerreiras do pó sudanês? Um simples homem que não deixou o nome para a posteridade, condenado à morte pelo destino, desviava o seu avião para salvar um elevado número de compatriotas que jamais conhecerá. Em terra, estes mesmos compatriotas ignorarão o gesto e lembrarão apenas “o destino”, essa figura imensa. Jamais lembrarão a humanidade do acto e a lição de vida que aconteceu no seu país. Um país repleto de vítimas e algozes.

terça-feira, março 22, 2005

"Sentido Ético"??

Durante uns tempos ouvi falar em “choque tecnológico” e não percebi. Culpa minha, claro. Contudo, bastou uma declaração do Dr. Jorge Lacão para tornar tudo claro. Este senhor fez um upgrade. Passo a explicar: tal como os computadores, o Dr. Lacão procedeu a uma actualização no seu sistema e apagou todos os dados que continha até então. Só assim se explicam as suas declarações, mal foram conhecidos os resultados eleitorais, aconselhando as pessoas nomeadas para lugares públicos por razões estritamente partidárias a tomar a atitude, por simples dever ético, de colocarem os seus lugares à disposição logo que o novo governo tome posse.
Para este senhor, apagado que está o passado, só o governo que agora termina funções terá tido os seus “boys”. Antes dele, terão existido “rapazes”, “garçons” ou “ragazzi” mas “boys” é que não. Muito bem, passemos adiante.
O Dr. Lacão é conhecido por estar sempre com a liderança do seu partido e, talvez por isso, não necessita de colocar nunca o lugar à disposição quando as coisas não correm bem. Vários exemplos: como tenho a mania dos papéis fui à procura e verifiquei que em 1995, o programa do Partido Socialista apresentava a seguinte promessa, perdão, proposta, quero dizer, compromisso, corrijo, objectivo, para o distrito de Santarém: regularização e ordenamento do Tejo. Pois é, prometeu mas não fez. Algum dos deputados do PS eleitos pelo distrito, incluindo o Dr. Lacão, tomou a atitude, “por simples dever ético”, de colocar o seu lugar à disposição ? Outras promessas ou propostas ou compromissos ou objectivos de 95: projectos e concursos para o IC3, projecto e execução do IC11, de Vendas Novas a Vila Franca de Xira, construção da variante EN3, do Cartaxo a Santarém. Prometeram e não fizeram. Ninguém colocou o lugar à disposição.
Na noite eleitoral, o vice-presidente do Conselho Superior de Magistratura, António Santos Bernardino, festejou de cachecol aos ombros, na sede do PS / Leiria, o resultado dos socialistas nas últimas eleições legislativas ( caros leitores socialistas, tenho a fotografia se duvidarem ). Perante a gravidade do facto ( ou só seria grave se o mesmo tivesse sucedido numa qualquer sede do PSD ? ), o Dr. Lacão aconselhará este senhor, “por simples dever ético”, a colocar o seu lugar à disposição ?
Imaginemos agora um “supônhamos”, como diria o José Pedro Gomes. Daqui a algum tempo, quando o professor Freitas do Amaral esquecer a rábula “toma lá o meu apoio, dá-me cá um ministério” e encerrar a Festa do Avante na Atalaia, será que o Dr. Lacão lhe irá pedir que tome a atitude, “por simples dever ético”, de colocar o seu lugar à disposição ?
A famosa argúcia popular encontrou para este contexto o conhecido “se tens telhados de vidro, não atires pedras”. Há políticos, há promessas, há obras, tem de haver responsabilidades.
Um último pormenor. O simples upgrade ou a actualização do sistema pode não resolver o problema. Por vezes, é necessário um bom anti-vírus. Habitue-se…

sexta-feira, março 18, 2005

Chuva forte

é a que se espera para as próximas horas. São as

Águas de Março



É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
É peroba no campo, é o nó da madeira
Caingá candeia, é o matita-pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto um desgosto, é um pouco sozinho
É um estepe, é um prego, é uma conta, é um conto
É um pingo pingando, é uma conta, é um ponto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manha, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É um resto de mato na luz da manhã

Tom Jobim


E esta??



O senhor da esquerda, com cachecol do PS ao pescoço chama-se António Cardoso dos Santos Bernardino. É "simplesmente" vice-presidente do Conselho Superior de Magistratura e não resistiu a celebrar a vitória do seu partido na sede do PS em Leiria. Este senhor é o responsável máximo pelo orgão disciplinador dos juízes portugueses, o orgão que pune os magistrados judiciais quando estes violam o dever de reserva. Este senhor será diferente dos outros?
E se o Dr. Souto Moura fosse avistado numa sede do PSD?
Pois é...

Arte? Qual arte??????

Primeira situação. Em Dezembro último, desapareceram do Centro de Arte e Espectáculos da Figueira da Foz os 17 pedaços de um lavatório de cerâmica a que Jimmie Durham chamou As Frases. Tais pedaços foram partidos em 1995, durante uma performance na galeria Módulo do artista norte-americano de origem cherokee e a peça, no valor de milhares de euros, pertencia à colecção do Instituto de Artes. O seu destino foi o lixo porque a empregada da limpeza achou – com razão – que se tratava de lixo de alguma obra a decorrer no centro. Arte?
Segunda situação. Em Junho de 2004, um zeloso funcionário de limpeza da galeria Tate Britain em Londres deitou fora – com razão – aquilo que lhe pareceu ser um saco de plástico com papéis e pedaços de cartão, que se encontrava junto a uma mesa. Tratava-se de parte de uma instalação do alemão Gustav Metzeger. (Infelizmente) O saco seria entretanto recuperado. Arte?
Terceira situação. Ainda em Londres, em 2001, o excesso de zelo destruiu uma “obra” do britânico Damien Hirst: latas de cerveja vazias, chávenas de café, maços de tabaco e cinzeiros atulhados de beatas, reunidas com o objectivo de representar o caos do estúdio do artista, foram parar – e bem – ao lixo. Arte?
Quarta situação. Na Alemanha, anos 80, a banheira imunda que fazia parte de uma instalação de Joseph Beuys foi esfregada – e bem – até ficar limpa. Arte?
Quinta situação. Há poucos dias, em Frankfurt, uma peça feita de vulgar plástico amarelo usado na construção civil, dobrado e cortado pelo artista Michael Beutler foi – e bem – destruída e incinerada por três alemães que trabalham na recolha do lixo. O autor explicou à BBC.News que tal obra “tinha qualquer coisa de parque infantil público, podia ver-se nela uma espécie de cobra ou assim”. O objectivo seria “criar uma coisa de tal forma real que não parecesse uma obra de arte”. Arte?

Nota: Este texto é dedicado aos "almeidas" portugueses. Força, vocês são a nossa esperança…

quinta-feira, março 17, 2005

Prosa

de Michel Deguy logo pela manhã. Bom Dia !!

PROSE

Tu me manques mais maintenant
Pas plus que ceux que je ne connais pas
Je les invente criblant de tes faces
La terre qui fut riche en mondes
(Quand chaque roi guidait une île
A l’estime de ses biens (cendre d’
Oiseaux, manganèse et salamandre)
Et que des naufragés fédéraient les bords)

Maintenant tu me manques mais
Comme ceux que je ne connais pas
Dont j’imagine avec ton visage l’impatience
J’ai jeté tes dents aux rêveries
Je t’ai traité par-dessus l’épaule

(Il y a des vestales qui reconduisent au Pacifique
Son eau fume C’est après le départ des fidèles
L’océan bave comme un mongol aux oreillers du lit
Charogne en boule et poils au caniveau de sel
Un éléphant blasphème Poséidon)

Tu ne me manques pas plus que ceux
Que je ne connais pas maintenant
Orphique tu l’es devenu J’ai jeté
Ton absence démembrée en plusieurs vals
Tu m’as changé en hôte Je sais
Ou j’invente

terça-feira, março 15, 2005

Vitorino Nemésio

foi provavelmente o maior poeta português do século XX.

Semântica Electrónica

Ordeno ao ordenador que me ordene o ordenado
Ordeno ao ordenador que me ordenhe o ordenhado
Ordinalmente
Ordenadamente
Ordeiramente.
Mas o desordeiro
Quebrou o ordenador
E eu já não dou ordens
coordenadas
Seja a quem for.
Então resolvo tomar ordens
Menores, maiores,
E sou ordenado,
Enfim --- o ordenado
Que tentei ordenhar ao ordenador quebrado.
--- Mas --- diz-me a ordenança ---
Você não pode ordenhar uma máquina:
Uma máquina é que pode ordenhar uma vaca.
De mais a mais, você agora é padre,
E fica mal a um padre ordenhar, mesmo uma ovelha
Velhaca, mesmo uma ovelha velha,
Quanto mais uma vaca!
Pois uma máquina é vicária (você é vigário?):
Vaca (em vacância) à vaca.
São ordens...
Eu então, ordinalmente ordeiro, ordenado, ordenhado,
Às ordens da ordenança em ordem unida e dispersa
(Para acabar a conversa
Como aprendi na Infantaria),
Ordenhado chorei meu triste fado.
Mas tristeza ordenhada é nata de alegria:
E chorei leite condensado,
Leite em pó, leite céptico asséptico,
Oh, milagre ordinal de um mundo cibernético!

Vitorino Nemésio

sexta-feira, março 11, 2005

Nau Catrineta

Com a devida vénia, aqui reproduzimos

- Lá Vem a Nau Catrineta ( 39 )





Lá Vem a Nau Catrineta

que tem muito que contar

com tricórnio de côr preta


D. José a comandar

D. Costa trata de ver

se corre tudo a preceito

D. Diogo vai escolher

os aliados de peito

D. Cunha juntou-se ao Pinho

dois em um, está bom de ver

p'ra contar o dinheirinho

que o baú vai receber


D. Luís limpa os canhões

D. Correia é enfermeiro

a Lurdinhas dá lições

a tudo que é marinheiro

D. Jaime é o despenseiro

D. Gago lê as estrelas

D Lino faz de pedreiro

D. Correia limpa as velas

D. Vieira é o tenente


mais querido da marinhagem

é ele que paga à gente

em cada mês de viagem

D. Pedro de pé à ré

transmite pr'à populaça

aquilo que D. José

ordena pois que se faça

D. Augusto é o papagaio

escolhido p'lo Capitão


D. Alberto é o lacaio

encarregue da prisão

A Dª Isabel de Lima

tem tarefa desgastante

escada abaixo, escada acima

que a cultura é importante

P'ra compôr o ramalhete

das flores do Capitão

só faltava o mandarete


quem é ele?...D. Lacão



É esta a tropa fandanga

que promete à Catrineta

que o discurso da tanga

já foi posto na gaveta

Com estes novos doutores

vai ser um sempre a aviar

ouvi agora senhores


uma história de pasmar





Era tempo de ocupar

camarotes e beliches

eram novos, a estrear

bem confortáveis, bem fixes

É claro que os tenentes

ocupavam camarotes

o resto das outras gentes


os beliches, mais fracotes



O grosso da marujada

toda ao monte, pois então?

pelo convés espalhada

com os costados no chão

Há séculos que assim era

sempre assim fôra vivido

a vida dura e austera


tinham há muito assumido



"...Falta muito para zarpar?

ó piloto do inferno?

eu quero é fazer-me ao mar

que em terra não me governo

o Banco levou-me a casa

o fisco o meu carrinho

a mulher bateu a asa


deixou-me a falar sozinho"...



"...Foi bem feito,meu sacrista!

quem te mandou ser otário?

querias ser galo de crista

foste frango de aviário

elegeste um trapalhão

D. Burroso, essa vedeta

para ser ele o Capitão


da bela Nau Catrineta...



...Em vez da prata e do oiro

que dizia ir trazer

afundou foi o tesoiro

e deu à sola a correr

Depois foi D. Santanás

com ele foi um fartote

já percebes porque estás


não de tanga, mas pelote?"...



Calou, seus fala-barato

vós sois piores que peixeiras

e toca a dar ao sapato

acabar com as brincadeiras

uma encomenda selada

vai chegar via postal

vem do Caldas enviada


p´ra D. Diogo Amaral



Assim que ela cá chegar

quero ser logo avisado

aquele que a entregar

vai levar outro recado

D. José me confiou

esta tarefa importante

escusado dizer que estou


bem por demais radiante



Irei dizer ao carteiro

que diga de uma assentada

ao marmelo que primeiro

no Caldas vir à entrada:

De D. José venho a rogo

informar-vos em geral

que o quadro de D. Diogo


de Freitas do Amaral

foi com prazer recebido

logo,logo colocado

no local que lhe é devido

prontamente preparado



D. Paulinho a sua acção

foi a de um puto de escola

ou você é parvalhão


ou não bate bem da bola

mas pode ficar ciente

depois desta brincadeira

pode haver na sua gente

quem espete o seu na lixeira

Autor: Zé do Telhado - in: www.tadechuva.weblog.com.pt - Blogue: Tadechuva II

Solidariedade





Madrid, um ano depois


A paz sem vencedor e sem vencidos

Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça.
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ler melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos


Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, março 10, 2005

Rosalia de Castro

tem aqui um dos seus mais belos poemas.


¡Cal as nubes no espazo sin límites
errantes voltexan!
Unhas son brancas,
outras son negras;
unhas, pombas sin fel me parecen,
despiden outras
luz de centela...

Sopran ventos contrarios na altura
i á desbandada,
van levándoas sin orden nin tino,
nin en sei pra onde,
nin sei por que causa.

Van levándoas, cal levan os anos
os nosos ensoños
i a nosa esperanza.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Em época de eleições

aqui está a imagem do povo português.



segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Dia dos Namorados

é o dia certo para este poema de Herberto Helder.

Tríptico

«Transforma-se o amador na coisa amada», com seu
feroz sorriso, os dentes,
as mãos que relampejam no escuro. Traz ruído
e silêncio. Traz o barulho das ondas frias
e das ardentes pedras que tem dentro de si.
E cobre esse ruído rudimentar com o assombrado
silêncio da sua última vida.
O amador transforma-se de instante para instante,
e sente-se o espírito imortal do amor
criando a carne em extremas atmosferas, acima
de todas as coisas mortas.


Transforma-se o amador. Corre pelas formas dentro.
E a coisa amada é uma baía estanque.
É o espaço de um castiçal,
a coluna vertebral e o espírito
das mulheres sentadas.
Transforma-se em noite extintora.
Porque o amador é tudo, e a coisa amada
é uma cortina
onde o vento do amador bate no alto da janela
aberta. O amador entra
por todas as janelas abertas. Ele bate, bate, bate.
O amador é um martelo que esmaga.
Que transforma a coisa amada.


Ele entra pelos ouvidos, e depois a mulher
que escuta
fica com aquele grito para sempre na cabeça
a arder como o primeiro dia do verão. Ela ouve
e vai-se transformando, enquanto dorme, naquele grito
do amador.
Depois acorda, e vai, e dá-se ao amador,
dá-lhe o grito dele.
E o amador e a coisa amada são um único grito
anterior de amor.


E gritam e batem. Ele bate-lhe com o seu espírito
de amador. E ela é batida, e bate-lhe
com o seu espírito de amada.
Então o mundo transforma-se neste ruído áspero
do amor. Enquanto em cima
o silêncio do amador e da amada alimentam
o imprevisto silêncio do mundo e do amor.

terça-feira, janeiro 18, 2005

Língua Portuguesa

Este texto é da autoria de Rui Ângelo Araújo e foi publicado na revista Periférica. A ler com atenção.


O FUTURO DA LÍNGUA PORTUGUESA
O debate sobre a língua portuguesa e o seu futuro está, como dificilmente poderia deixar de estar, impregnado de ideologia. Ou, pelo menos, sob a sua influência. Nesta questão, como em muitas outras, há uma postura conservadora e uma postura liberal. Existem os reaccionários e os revolucionários. Aos que «amam» a língua, uma postura conservadora face à sua evolução parece a coisa mais ajuizada — e é-o, quase sempre. Por outro lado, os revolucionários vêem a atitude condescendente como sendo a indicada. Mas por que raio há-de a tendência ideológica ser chamada para tutelar o evoluir da língua?

A língua, ao fim e ao cabo, não é mais do que um meio de nos entendermos e uma ferramenta para nos ajudar a decifrar o mundo. A Secretaria de Estado do Turismo, o Ministério da Cultura (designadamente o departamento que zela pelo património) e o Ministério da Economia podem ter as suas próprias opiniões sobre a língua portuguesa. Mas, em rigor, o cerne da questão quando se discute a língua é (ou devia ser) o seu carácter de ferramenta intelectual. Ora, a uma ferramenta intelectual destas interessam duas coisas: a «universalidade» e a «riqueza».

Convirá a uma língua ser entendível na máxima profundidade pelo maior número de desgraçados que dela venham a necessitar. Por outro lado, a bem dos utentes, especialmente dos que a tenham como primeiro idioma, convirá à língua possuir uma riqueza e uma proficuidade tais que lhes permitam representar com vasta eficiência o intrincado vórtice dos pensamentos e emoções humanas, a espantosa complexidade do mundo e, cereja que não pode faltar ao bolo, lhe concedam o dom de passar para a boca ou para o papel a fértil imaginação e os exercícios abstractos em que os cidadãos utentes possam, eventualmente, ser pródigos. A «universalidade» do dialecto é condição para que ele cumpra convenientemente o papel primordial da comunicação dentro do universo dos utentes. A «riqueza» é atributo imprescindível para garantir ao universo de utentes o máximo de capacidades para as grandes olimpíadas da civilização. Disto resulta que a evolução da língua deve observar, com a flexibilidade que à frente se verá, estes dois pressupostos.

Uma das discussões acerca da evolução da língua portuguesa passa exactamente por aqui. Deverá ou não a língua evoluir por aquilo a que chamam a crioulização, a mestiçagem? Pois bem: as práticas correntes não obedecem a normas. Cada país, cada região, cada classe social, cada tribo urbana adopta os vocábulos e constrói as frases como muito bem lhe apetece. E isso resulta. Até certo ponto. Quando a comunicação precisa de se fazer num círculo mais alargado, o indígena escolhe melhor os termos — ou aceita que não o entendam. Daí ser, ao que me parece, a atitude conservadora a que deve vigorar quando se pondera a integração de novas morfologias ou novos termos no idioma. A universalidade dentro do país deve estar assegurada, sob risco de terem os governos de formar equipas de alfabetização que integrem toda a comunidade nas novidades que esta não absorveu pelo processo normal de evolução das línguas: a propagação e a adopção generalizada.

Significa isto que está vedado aos escritores a experimentação? A adopção de regionalismos, de estrangeirismos, a criação de neologismos? Seria ridículo pretender tal. A literatura vive num universo paralelo onde a anarquia é possível. Quando o autor faz as suas redacções num «esperanto» próprio, o risco é todo seu (e do eventual editor). Isso não afecta a vida dos cidadãos — como afectará um documento das finanças escrito em mirandês ou uma lei redigida em crioulo (sendo certo que alguns documentos e algumas leis que vigoram estão redigidas em dialectos indecifráveis, com os subsequentes problemas de interpretação que se conhecem — quod erat demonstrandum). O escritor que arrisca confia na capacidade de dedução dos seus leitores. Mas, na utilização não literária, o desejo de uma comunicação clara (mesmo que, por necessidade, complexa) deve vir antes da ambição de efeitos estilísticos, das experimentações. Ou seja: a literatura pode ser terreno fértil para testar a evolução da língua, mas as evoluções não devem ser adoptadas oficialmente enquanto não for garantida a universalidade da inovação, ou algo próximo disso.

Por outro lado, a evolução não deve acobertar a adopção do erro, como está implícito no pensamento de alguns mais tocados pela ideologia da libertação, simpatizantes da luta dos pobres (de espírito) contra os opressores (os compêndios). A simplificação, a libertação de espartilhos gramaticais só aparentemente tornam mais eficaz a comunicação. Se «simplicidade» significasse sempre melhor comunicação, nunca teríamos abandonado o urro como idioma corrente (bem, é certo que nem todos abandonámos). A integração de certos erros gramaticais no panteão das letras, mesmo quando se trata de erros comuns, cometidos pela maioria, aumenta a confusão e o ruído. Permite a ideia de que, afinal, não há normas. Potencia uma variedade tal de fórmulas que, em vez de enriquecer o idioma, corre o risco de o tornar babélico. Se, na maior parte dos casos, isso até pode não causar mossa (a não ser à sensibilidade estética), lembre-se, no entanto, a diferença que uma vírgula ou a sua ausência pode causar em certos documentos e ter-se-á uma ideia da quantidade de casos em que o erro pode afectar, efectivamente, a polis. Depois: a disciplina e o rigor na utilização do idioma não são totalitarismos — são a certeza de que nos obrigamos a ter método, a pôr de lado a preguiça, a vencer a tendência natural para o desleixo, coisas que nos conduzem a um laxismo intelectual pouco propício ao desenvolvimento da massa encefálica.

Quanto a certos neologismos e estrangeirismos, por mim não teria pressa em integrá-los formalmente na língua. Há maneiras de os utilizar assinalando a sua origem estranha (o itálico, as aspas). Em certas prosas muito modernas integra-se o inglês, o crioulo ou os neologismos no corpo de texto como quem não quer a coisa. Grafam-se em letra de tipo igual ao que se usa nas palavras naturais da língua. Resultam daí, não raro, obstáculos desnecessários para a compreensão do texto. Em redacções literárias experimentais, a integração de vocábulos estranhos pode ter um objectivo fonético, poético, rítmico, e o risco é salutar. Na prosa comum, mesmo que literária, este comportamento corresponde a maneirismos inúteis e novo-ricos. Bem sei que o advento da informática, ao permitir que imprimamos os textos sem um tipógrafo ou editor de permeio, veio dar a cada um o seu modo de trabalho. O que significou, quase sempre, abrir portas à preguiça. Recursos como o itálico, as aspas e o negrito, aparentemente mais fáceis de usar do que na escrita manual, passaram, para o cidadão comum, a ter uma função meramente eventual e estética. O que torna certos textos pouco legíveis. Claro que o escritor moderno (seja ele um estudante, um burocrata ou um romancista de nova geração) gosta de confiar na nossa competência dedutiva, de pôr à prova a nossa capacidade de entendimento com a sua prosa avant-garde — transformando-se as mais das vezes num escritor «mal entendido». Com propriedade.

Mas, quando digo que a evolução da língua deve ter em conta a «universalidade», de que «universalidade» falo? Da que se confina ao rectângulo nacional ou a da lusofonia? Ora ainda bem que me faço esta pergunta (posso assim soltar o reaccionário que me habita). O melhor, pelo menos para o brio dos portugueses, seria que a evolução da língua nos diversos países lusófonos se desse de um modo convergente — quero dizer: que Timor, os PALOPs e o Brasil convergissem connosco. Mas isso constituía um problema para a moral «de esquerda»: então não há que preservar a identidade de cada povo?

A nossa ética obriga-nos a respeitar as especificidades de cada tribo — e isso também é válido para a língua. Chatice. Mas agora viremos o bico ao prego: não tem Portugal o direito a manter um português próprio, de acordo com a evolução da sua identidade? A aproximação dos diferentes linguajares terá forçosamente de ser feita à custa da crioulização do português de Portugal?

Que a língua nos diversos países lusofalantes evolua de modos diferentes não é, em minha opinião, a catástrofe que a muitos aflige — desde que seja fornecida aos cidadãos uma segunda língua, uma língua que garanta a universalidade a um nível mais lato (como acontece com os países do norte da Europa, que ambicionam menos expandir a língua do que aprofundar o domínio do inglês).

Os portugueses precisam de aprender português porque vivem em Portugal, e aqui a vida desenrola-se em português. Não seria proveitoso para o autóctone nascer e viver em Portugal tendo como único idioma o checo. Teria, digamos, alguns problemas de integração e certas dificuldades na compreensão do mundo, mesmo do pequeno mundo que o rodeia. Mas, para lá do «universo» que é o território pátrio, é mais proveitoso para o indígena aprofundar o domínio duma língua franca (o inglês, claro está) do que ficar à espera da convergência dos outros povos.

O que é que acontece em Portugal? Falha a aprendizagem duma língua internacional e falha a aprendizagem da língua materna. E é aqui que bate o ponto. A discussão sobre a aprendizagem do português torna quase ocioso o debate sobre o futuro da língua, torna-a matéria para a Academia de Ciências e para os futuros etnólogos, para os promotores da mestiçagem e para os curadores dos museus da língua. Antes da evolução e da expansão do idioma (tão cara aos saudosos do império que somos todos em algum momento) é preciso assegurar que as gerações lusoparlantes, nadas e criadas num jardim onde a moeda de troca intelectual é o português, fiquem dotadas com as ferramentas mínimas para se entenderem. Para entenderem os jornais e os livros que deviam ler (não é de esperar que, ignorante do português, a rapaziada desate a ler originais estrangeiros). Para entenderem os impressos dos impostos que não pagam. Para entenderem os relatórios sobre o fracasso da economia. Para, enfim, entenderem a certidão de óbito da pátria.

Em muitas das discussões sobre a língua portuguesa, os contendores não se apercebem, mas debatem mais os problemas decorrentes de um mau ensino do que propriamente assuntos atinentes à língua itself. Porque esta é a verdadeira discussão. Se o Brasil se afastar mais um oceano de nós, podemos perder influência geopolítica (influência que, a vir, viria por «arrasto»), perder um mercado (que não temos), precisar de legendar as novelas. Se em Timor evoluir um português que exija intérprete, teremos de nos conformar: sempre assim foi. Se a percentagem de falantes de português nos PALOPs diminuir, lá se vai a commonwealth à portuguesa (que, caso não tenham reparado, nunca existiu). Mas, se cá na pátria o cultivo da língua continuar viçoso como nas últimas décadas, então o futuro já não será uma questão de mestiçagem ou de manutenção do português de lei. O futuro será uma questão de ter uma nação inteira de voltar ao «a-e-i-o-u» — soletrado ao som da régua em compasso binário. RAA

sexta-feira, janeiro 14, 2005

Romanceiro Viejo

La mañana de San Juan

"La mañana de San Juan - al tiempo que alboreaba,

gran fiesta hacen los moros - por la vega de Granada.

Revolviendo sus caballos - y jugando de las lanzas,

ricos pendones en ellas - broslados por sus amadas,

ricas marlotas vestidas - tejidas de oro y grana.

El moro que amores tiene - señales de ello mostraba,

y el que no tenía amores - allí no escarmuzaba.

Las damas moras los miran - de las torres de la Alhambra,

también se los mira el rey - de dentro de la Alcazaba.

Dando voces vino un moro - con la cara ensangrantada:

- Con tu licencia, el rey, - te daré una nueva mala:

el infante don Fernando - tiene a Antequera ganada;

muchos moros deja muertos, - yo soy quien mejor librara,

siete lanzadas yo traigo, - el cuerpo todo me pasan,

los que conmigo escaparon - en Archidona quedaban.

Con la tal nueva el rey - la cara se le demudaba;

manda juntar sus trompetas - que toquen todas el arma,

manda juntar a los suyos, - hace muy gran cabalgada,

y a las puertas de Alcalá, - que la Real se llamaba,

los crisitianos y los moros - una escaramuza traban.

Los cristianos eran muchos, - mas llevaban orden mala,

los moros, que son de guerra, - dádoles han mala carga,

de ellos matan, de ellos prenden, - de ellos toman en celada.

Con la victoria, los moros - van la vuelta de Granada;

a grandes voces decían: - -¡La victoria ya es cobrada!"

Palavras

As palavras arrastam consigo histórias extraordinárias e curiosidades do arco da velha. Aqui está uma expressão única e que, só por si, merecia um romance.
A língua inglesa, por exemplo, tem um poder de “sucção” tremendo. Por isso, tantas palavras estrangeiras se misturam com o idioma como se fossem realmente “puras”.
E o próprio falante, o povo inglês, não se parece com mais ninguém. Conhecem mais alguém que conduza pela esquerda, que ache que a onça vale 28,35 gramas, o galão 4,54 litros, que divida a milha em furlongs ( que correspondem a um estádio ), jardas e pés, que chame coach ao treinador e trainer ao preparador físico? Pois é, eles são assim ...
“Boxing Day”, ao contrário do que julgam não quer dizer Dia do Pugilismo. O “Boxing Day” é o dia a seguir ao Natal e é assim conhecido por ser o dia em que as igrejas abrem as caixas ( boxes ) de esmolas para os pobres. No século XIX, numa sociedade conservadora e tradicional, o dia de Natal sempre foi dia de trabalho para a “criadagem”. Na manhã seguinte, tinham finalmente autorização para ir ver a família. Muitos levavam para casa os restos da refeição da véspera, precisamente em caixas de cartão. Aí está, de novo: “Boxing Day”. Nos nossos tempos, a data é sempre dia de futebol e de caça à raposa. Também aqui os ingleses são únicos.
Por mim, já decidi. Quando passar um Natal em Inglaterra e como não tenho dinheiro nem cavalo para andar atrás das raposas, irei a Villa Park ver jogar o Aston Villa. É que nisto, como em tudo, há o Natal dos ricos e o Natal dos pobres ...

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Glória





desportiva portuguesa: Cavém.Muitos tentaram sê-lo, ele conseguiu!!

terça-feira, janeiro 11, 2005

Dupla Personalidade



parece ter o Presidente. Então quando precisou das maiorias através de acordos e negociações para subir às Presidências da Câmara de Lisboa e da República não se lembrou das vantagens das maiorias absolutas? Então uma das virtudes da democracia não é precisamente a necessidade dum maior envolvimento de todos? É feia, mesmo muito feia a forma como este senhor termina o mandato. Independência relativamente aos partidos? Está bem, está... Por vezes, é difícil despir a camisola...


sexta-feira, janeiro 07, 2005

Tragédias

Haverá alguma compreensível?





terça-feira, janeiro 04, 2005

Eduardo Serra

viu finalmente reconhecido o seu trabalho cinematográfico. Foi injusto não ter recebido o Óscar no seu melhor trabalho.

Em Espiral

está o Mundo.



Museu do Vaticano, 18-08-2004


segunda-feira, janeiro 03, 2005

O Tesouro de Arafat

A recente morte de Arafat trouxe à superfície a velha questão dos donativos feitos para causas ditas “humanitárias”. Arafat trazia sempre consigo um caderninho que continha os números de acesso às contas bancárias daquele que é chamado como o “tesouro da OLP”.
Citando a insuspeita Forbes, o Jornal francês Le Figaro coloca a personagem em sexto lugar na categoria das famílias reais e dirigentes, com uma fortuna que ultrapassa os 300 milhões de dólares, qualquer coisa como 390 milhões de euros. Segundo o FMI, entre 1995 e 2002 “desapareceu” a insignificante importância de 900 milhões de dólares que teriam como destino as empresas estatais ligadas à importação de cimento, farinha ou petróleo para a Palestina.
De acordo com as autoridades israelitas, existem funcionários cujo trabalho a Autoridade Palestiniana paga com dinheiro europeu e que, fora do exercício das suas funções, se dedicam a práticas terroristas. Dinheiro europeu significa o “nosso” dinheiro e é legítimo pensar que um chefe guerrilheiro com uma vida tão agitada não pode acumular tantos recursos de uma maneira legítima.
Evidentemente que tais recursos económicos nunca servirão para desenvolver negociações sérias com vista à paz. Sem qualquer espécie de controlo, esses meios permitirão financiar operações militares, actos terroristas ou mais corrupção ainda. E tudo leva a crer que uma grande parte desse tesouro tenha saído dos bolsos dos contribuintes europeus. Oxalá as autoridades policiais e judiciais francesas aproveitem a ocasião para esclarecer o caso.