terça-feira, junho 27, 2006

O Presente

O que se passa no país para lá do futebol? Como dizem alguns, estamos em stand-by até Outubro. Depois do Mundial virão os comentaristas procurar as razões do insucesso português, a seguir as férias e logo depois a rentrée. Até lá, Sócrates vai descansando, as maternidades serão fechadas, as multinacionais vão-se embora e os governantes assobiarão para o lado. Entre um golo e um mergulho, os serial-killer continuarão activos e os incêndios chegarão apesar de todas as promessas que desta vex é que é. Não, não é. São sempre simpáticas as declarações em conferências de imprensa solenes ( "temos a situação controlada", "há um ano que estamos a preparar o combate aos fogos florestais" ) mas rapidamente acordamos e voltamos à realidade. Não se pode fazer nada, "a culpa é da natureza". Pois...

quarta-feira, junho 21, 2006

Em época de Futebol


FUTEBOLÃNDIA

Não percam este presente.


terça-feira, junho 13, 2006

Eugénio de Andrade

Morreu há um ano.

António Lobo Antunes escreveu o seguinte em Maio de 2004 numa crónica da Visão:

«O poeta Eugénio de Andrade está muito doente. É meu amigo e não tenho coragem de o visitar. Quando ia à sua casa, no Passeio Alegre, um espaço de cuidadosa brancura diante das palmeiras e do mar, recebia-me com vinho fino, biscoitos, livros, pequenas atenções que me tocavam, conforme me tocava a sua delicadeza, a sua fidalguia. A mesa de mármore para escrever. Nunca me disse mal de ninguém e a vaidade que o habitava, tão ingénua, comovia-me. (...) A sua solicitude e a sua ternura em relação a mim eram infinitas. Já doente e estando eu em Roma para um prémio, o padre e poeta José Tolentino Mendonça, que ele apreciava grandemente e é um dos poucos que admiro e respeito, contava-me que o Eugénio o chamava, preocupado que eu estivesse bem. Punha, na camaradagem, um desvelo fraterno (...) Dele recebi, durante anos e anos, inúmeras provas de estima. Censuro-me não o visitar agora; é que não suporto vê-lo acabar assim, reduzido a um pobre fantasma titubeante. A ele, que tanto prezada a beleza e a sua própria beleza (o Eduardo Lourenço, amigo de ambos - E então chegou-nos a Coimbra aquele Rimbaud) a doença resolveu destruí-lo, horrivelmente, no que mais lhe importava, tornando-o um Rimbaud desfigurado, dependente, trágico (...). Ao Eugénio prefiro lembrá-lo como o conheci: orgulhoso, altivo, falando-me de jacarandás e frésias, amando (e era verdade) o 'repouso no coração do lume'. E, depois, havia pequenos actos que o definiam inteiro: uma das ocasiões em que fui ao Porto encontrei um livro de Jorge de Sena, um livro póstumo, horrível, em que Sena atacava companheiros de viagem (Cesariny e Vitorino Nemésio, por exemplo, muito melhores artistas do que ele) de um modo tão vil que me indignou. Referi o livro ao Eugénio. Ele ficou longamente em silêncio e, depois, tirou o seu exemplar de baixo de um móvel e poisou-o no sofá. Segredou - Tinha-o aqui escondido, sabe, porque não queria que pensasse mal do Jorge. (...) Reparo, agora, que estou a relatar tudo isto no passado, como se o Eugénio tivesse morrido. Talvez porque o homem que continua vivo não é ele. Talvez por pudor meu. Talvez porque o fim de um amigo me seja difícil. (...)»