quarta-feira, dezembro 22, 2004

Bom Natal

e não se deixem enganar.



terça-feira, dezembro 21, 2004

Animada

é como vai a República: demissões, jantares, acções de pura propaganda demagógica, tensão alta, apito dourado...



sexta-feira, dezembro 17, 2004

Nova Maravilha

do Mundo. E vem de França.


quinta-feira, dezembro 16, 2004

As Peles Pisadas

Frequentemente, lá aparecem umas modelos à porta de grandes armazéns de Lisboa protestando contra a venda de casacos de peles. Os cartazes dizem sempre qualquer coisa como: “Eu prefiro andar nua do que usar peles”. Alguém podia dizer às criaturas que o frio pode ser terrível e se todos se despissem quando não concordam com alguma coisa, bem podem o Adão e a Eva sentir-se injustiçados.
Elas despem-se porque gostam de animais, por causa da fome em África, enfim, por mil e uma razões. Sinceramente , preferia que dirigissem a sua atenção e preocupações para as meninas modelos cujo ritmo de vida as impede de prosseguir estudos, de viver com a família; para as dietas loucas e outros “tratamentos” que essas meninas recebem para ficarem com as medidas exactas; para a exploração feita pelos donos das agências; para as falsas expectativas criadas a milhares de adolescentes pelas escolas de modelos; etc.
E os homens? Por que razão os homens, modelos ou não, não aparecem nestas acções de rua? Servirão eles para explicar a justiça das causas que elas apoiam, colocando o rabo ao léu por não saberem fazer mais nada?
Finalmente, registe-se o facto dos casacos de peles, devidamente pisados e pintados com spray, serem oferecidos ao povo afegão e aos sem-abrigo portugueses. Se existir relação, só pode ser uma: perto das estrelas da imagem e do esplendor das luzes, os sem-abrigo e o povo afegão vivem ainda na pré-história. Estão por isso perdoados e merecem um rebuçado. Pois.
Julgo é que os afegãos e os sem-abrigo prefeririam que lhes enviassem as próprias modelos. E aqui para nós, isso é que era.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

'Biografia' de Nuno Júdice

Biografia


Incorreu no desejo, no pecado melancólico
do amor, no gozo do instante que o tempo
apaga. Cedeu às espumas abstractas da vida
a solidão herdada da noite. Entrou num rio
de palavras difusas, abandonando a segurança
das margens.

Conheceu o pálido reverso dos rostos;
acordou corpos dos quais só lembra um frio
de sombra; viu a destilação da ausência
nos sentidos que o outono entorpece, in-
diferente, na expectativa dos júbilos
primaveris.

Na estação que traz de vota a fúnebre
rapariga, no entanto, algo correu mal. Não
marcou o despertador para a hora certa; não
ouviu o nome que assinala o reconhecimento
dos amantes. Dormira pouco a noite passada;
distraíra-se.

Sobrou-lhe de tudo isto um resíduo de
canto: revelação de um eco de voz sem a
opacidade de lábios, súbita como a imagem
de uns cabelos antigos
no vazio do verso.