segunda-feira, março 08, 2004

Liberdade / Censura

Não fosse repetir-se o caso de, num gesto mais brusco, um seio surgir imprevistamente numa transmissão televisiva, a recente cerimónia da entrega dos Óscares foi transmitida pela cadeia de televisão americana ABC não em directo mas com um atraso de cinco segundos. O objectivo foi garantir que nenhuma imagem “imprópria” seria transmitida para casa de todos os que seguiam o espectáculo.
Em França, há alguns dias atrás, os organizadores dos prémios “Victoires de la Musique” decidiram fazer a transmissão televisiva com um desfasamento de dez minutos, invocando “razões técnicas”.
Num e noutro caso, evitam-se dessa forma eventuais comentários e declarações “políticas” em locais à partida “apolíticos”, mas que são aproveitados por “alguns” para fazer passar a sua mensagem contra um governo ou uma determinada política.
Mas a questão é outra ou pode ser outra. Liberdade de expressão é a liberdade que temos de falar sem qualquer receio de sermos calados, é a possibilidade que temos de dar a nossa opinião sem qualquer tipo de silenciamento. Obviamente, pressupõe-se a responsabilização daquilo que é dito por quem diz.
Parece-me desta forma que o conhecimento prévio do discurso e as suas aceitação e aprovação atempadas por parte, quer dos órgãos de comunicação social, quer do Estado, são inaceitáveis numa sociedade democrática. Podem até existir situações em que os riscos da liberdade aconselham alguma prudência à sociedade, mas um seio nu está longe de justificar a limitação de falar sem escolhos no caminho.



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