sexta-feira, março 18, 2005

Arte? Qual arte??????

Primeira situação. Em Dezembro último, desapareceram do Centro de Arte e Espectáculos da Figueira da Foz os 17 pedaços de um lavatório de cerâmica a que Jimmie Durham chamou As Frases. Tais pedaços foram partidos em 1995, durante uma performance na galeria Módulo do artista norte-americano de origem cherokee e a peça, no valor de milhares de euros, pertencia à colecção do Instituto de Artes. O seu destino foi o lixo porque a empregada da limpeza achou – com razão – que se tratava de lixo de alguma obra a decorrer no centro. Arte?
Segunda situação. Em Junho de 2004, um zeloso funcionário de limpeza da galeria Tate Britain em Londres deitou fora – com razão – aquilo que lhe pareceu ser um saco de plástico com papéis e pedaços de cartão, que se encontrava junto a uma mesa. Tratava-se de parte de uma instalação do alemão Gustav Metzeger. (Infelizmente) O saco seria entretanto recuperado. Arte?
Terceira situação. Ainda em Londres, em 2001, o excesso de zelo destruiu uma “obra” do britânico Damien Hirst: latas de cerveja vazias, chávenas de café, maços de tabaco e cinzeiros atulhados de beatas, reunidas com o objectivo de representar o caos do estúdio do artista, foram parar – e bem – ao lixo. Arte?
Quarta situação. Na Alemanha, anos 80, a banheira imunda que fazia parte de uma instalação de Joseph Beuys foi esfregada – e bem – até ficar limpa. Arte?
Quinta situação. Há poucos dias, em Frankfurt, uma peça feita de vulgar plástico amarelo usado na construção civil, dobrado e cortado pelo artista Michael Beutler foi – e bem – destruída e incinerada por três alemães que trabalham na recolha do lixo. O autor explicou à BBC.News que tal obra “tinha qualquer coisa de parque infantil público, podia ver-se nela uma espécie de cobra ou assim”. O objectivo seria “criar uma coisa de tal forma real que não parecesse uma obra de arte”. Arte?

Nota: Este texto é dedicado aos "almeidas" portugueses. Força, vocês são a nossa esperança…