sexta-feira, novembro 19, 2004

Os anti-sistema

O Euro trouxe o sentimento patriótico e a confiança. Durante uns dias, orgulhámo-nos de ser portugueses, falámos bem de nós, estivemos nos títulos dos jornais de todo o mundo. Mostrámos que somos homens e mulheres fantásticos, capazes de obras meritórias, tantas vezes esquecidas por décadas de coisas pequeninas. Quando não existe inveja, calúnia ou tráfico, qualquer que ele seja, Portugal tem valor e apetece cá viver.
E a outra face da moeda? Quem são os outros? Encontramo-los todos os dias e vivem à sombra do poder da altura, qualquer que ele seja. Ocupam todas as profissões e prometem tudo o que não é seu para dar. Vivem à conta dos impostos que não pagam e anunciam-se como “anti-sistema”. Podem ser gordos ou magros, altos ou baixos. Todos os conhecem por não ter qualidades. Triunfam através de expedientes, pisam quem se lhes atravessa no caminho, são mesquinhos e invejosos. Andam acompanhados por cães ferozes que pretensamente lhes dão um ar de seriedade que um qualquer curso superior não conseguiu. O emprego serve apenas para ir buscar o vencimento no final do mês. Aí não são nada “anti-sistema” e contam as notinhas como os outros. Não fazem nada especialmente bem. Escrevem português com erros, falam convictamente do que ignoram e criam mau ambiente onde quer que estejam. Ninguém gosta deles mas não têm a coragem de os pôr na ordem porque os temem. Odeiam a qualidade, invejam e caluniam o sucesso dos “apagados” que estão na mesa do lado. Millôr Fernandes dizia a propósito deles que não fora o seu passado duvidoso e o futuro incerto e ainda poderiam ir longe na vida. O problema para nós é que, em Portugal, até vão: a preguiça alheia e o tráfico, seja ele qual for, permitem-lhe ser director de alguma coisa ou dinamizar um projecto. Iguais a si próprios e manifestamente incompetentes, tiranizam todas as equipas a que pertencem e humilham os verdadeiros competentes. Eis a coroa de glória: o pretenso “anti-sistema” chega a ser condecorado pelo que nunca fez. Como não tem vergonha e ignora que nada fez, deixa andar e aceita o que não merece. A seu lado, o cão feroz ri na sua irracionalidade.
E aí está a outra face dos portugueses que explica as suas insuficiências: os prémios que se atribuem a esta gente sem qualidades.

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